COMPETIÇÕES

200 MILHAS DE INTERLAGOS

1971


Eram 24 motos alinhadas ... apenas 14 chegaram ao final !

Com um verdadeiro show, Tucano vence praticamente de ponta a ponta essa prova de alta velocidade, disputada no anel externo do autódromo de Interlagos !

Vamos ver como foi !


Walter "Tucano" Barchi e sua Yamaha TR-2B


Dia 28 de agosto de 1971, sábado, acontecem os treinos.

O experiente Paolo Tognocchi, com sua Suzuki Daytona 500, é o mais rápido, seguido de Walter "Tucano" Barchi, com uma Yamaha TR-2B.

Os tempos dos dois pilotos é bem mais baixo do que os demais participantes.

A prova promete ser uma bela disputa entre eles.


Domingo, 29 de agosto, dia da prova !

Antes da largada, haveria uma homenagem, que acabou sendo um pouco tumultuada.

O Centauro Moto Clube, para homenagear a Marinha e a Força Aérea Brasileira, organizou uma caravana que partiria do parque do Ibirapuera, escoltada por batedores da Força Pública.

Foram duzentas motos ... chegando ao autódromo, a caravana deu uma volta completa pelo circuito externo, e deveria sair, mas a grande maioria invadiu a área dos boxes, atrapalhando o trabalho dos mecânicos e pilotos.


O já agitado box de Interlagos foi literalmente invadido pela caravana !

Nessa confusão, a equipe de Paolo Tognocchi acabou não trocando os pneus usados no treino da manhã, que estranhamente não haviam se mostrado muito eficientes.

Dessa forma, Tognocchi teve que alinhar assim mesmo.


Na hora prevista, os pilotos alinharam, em pé, ao lado das motos ... silencio total ... quando Eloy Gogliano baixou a bandeira todos saem correndo, empurrando suas motos ... montam, ligam o motor e partem !

Tucano larga atrasado ...

"A Yamaha é sempre um pouco difícil de pegar, mas quando pegou comecei a forçar o ritmo, a 10500 giros", conta Tucano.

Tognocchi já estava lá na frente, e vinha descendo o retão dando umas olhadas para trás ... estava procurando Tucano !

Já na segunda volta (seriam 100 no total), Tucano alcança Tognocchi na curva da subida dos boxes e o ultrapassa !

Como a prova é longa, cerca de 2 horas, Tucano dá uma aliviada, caindo para 9500 giros, esperando uma reação de Tognocchi .. porém, para sua surpresa, isso não chegou a acontecer !

A Suzuki Daytona de Tognocchi balançava demais nas curvas, por causa dos pneus ... ele não conseguia imprimir tudo o que ele poderia andar !

Nos boxes os mecânicos descobrem a mancada tarde demais ... haviam montado um pneu traseiro na roda dianteira da Suzuki !!


Paolo Tognocchi vem segurando no braço sua Suzuki !

O plano da Yamaha era de ganhar tempo no reabastecimento, pois na TR-2B o óleo vai misturado diretamente à gasolina e na Suzuki há um reservatório separado para o óleo 2T.

A previsão de equipe Yamaha estava certa, pois Tognocchi parou 42 segundos no reabastecimento, e Tucano apenas 25 segundos !

Nessa altura, várias motos foram quebrando e alguns acidentes acontecendo, como o de José Pinheiro, da equipe Velomoto, que fechado na curva 3, não tem como desviar e cai !

Outro acidente  foi com Arnaldo Dias Baptista, do conjunto "Os Mutantes", que na mesma curva 3 sofre uma derrapagem e cai.

Ele explicaria para sua equipe depois, que os freios de sua Bultaco TSS 250 falharam e ele entrou forte demais na curva.


Polé, que correu em dupla com Arnaldo Baptista na Bultaco 250, a "Catalã".

Arnaldo Baptista recorda: 

"Lembro-me que a minha moto Bultaco 250 refrigerada à agua, 6 marchas, era 2 tempos... então reduzindo o motor não desacelerava, por isso caí na curva 3... Meu número era 69 e eu era ultrapassado pelo 24 Tucano, com uma Yamaha 350..."


A cronometragem de Arnaldo Baptista ficou a cargo da cantora Rita Lee, sua esposa, também do conjunto "Os Mutantes".

Em terceiro lugar vinha Denísio Casarini, com uma Yamaha DS-7 250.


Denísio e sua DS7 preparada por Tanigawa

Na briga pelo quarto lugar apareciam Márcio Penteado, do Rio de Janeiro, com uma BSA 750, José Oliveira Peixoto, de São Paulo, com uma Ducati 250, e Antonio Carlos Aguiar, também de São Paulo, com outra Ducati 250.

No pelotão intermediário, longe dos ponteiros, outros pilotos faziam uma bela disputa ... Milton Benite, da equipe Velomoto de São Paulo, com uma Honda 250 de passeio, transformada para pista, Denerval Ferraró, com uma Yamaha 250, Sérgio Iasi, de Yamaha YAS1 125 (com kit de competição de fábrica) e Salvatore Amato, que mesmo com uma Ducati 250 falhando, demonstrava grande habilidade !


Milton Benite e sua Honda 250 "de rua" !

Nem tudo foi tranquilidade para Tucano ... na 59ª volta sentiu uma coisa estranha na moto ..

"Eu estava saindo da curva 2 a 10000 giros, para entrar no retão, quando a moto tremeu toda. Na hora não percebi o que tinha acontecido. Primeiro pensei que havia apanhado um passarinho, coisa muito comum no retão. Depois diminui a velocidade e vi que o freio tinha baixado, mas ainda segurava. Tive muita sorte, pois quando a moto tremeu foi porque soltaram as molas dos patins dianteiros. Isso poderia ter travado a roda dianteira e eu cairia na certa !" - contou depois Tucano.

Depois do susto, Tucano leva sua TR-2B, com certa tranquilidade até receber a bandeirada (no estilo !) de Eloy Gogliano !


Bandeirada para Tucano ... Denísio comemora a vitória na categoria 250 !

 


Bela vitória do jovem Tucano !

Paolo Tognocchi fica em segundo lugar, com Denísio em terceiro e Marcio Penteado em quarto.

"Antes da largada, eu pensava que a corrida seria muito difícil, porque Paolo Tognocchi é mais experiente e estava lá com sua Suzuki Daytona 500. Eu achava que o máximo que poderia fazer era disputar com ele o primeiro lugar durante toda a prova. Mas no fim minha vitória foi tranquila" - confessava o sorridente Tucano após o pódio !


Paolo Tognocchi, Denísio Casarini e Walter Barchi.
Momento do Hino Nacional !

Essa bela vitória vem confirmar a condição de que Walter "Tucano" Barchi é uma das maiores revelações do motociclismo brasileiro, pois vencer as 200 Milhas de Interlagos não é uma tarefa fácil, precisa de máquina e de competência !

Tucano ainda teve a melhor volta da prova com tempo de 1m10s5/10, com média de 165,523 km/h.

A prova teve 100 voltas e o tempo de 2 horas, 4 minutos, 31 segundos e 4 décimos.

Assim foram as ...

200 MILHAS DE INTERLAGOS DE 1971


CLASSIFICAÇÃO POR CATEGORIA

250 CC

Colocação Piloto Moto
Denísio Casarini Yamaha DS-7
José Oliveira Peixoto Ducati 250
Antonio Carlos Aguiar Ducati 250
Milton Benite Honda 250
Salvatore Amato Ducati 250

Acima de 250 cc

Colocação Piloto Moto
Walter Barchi Yamaha TR-2B
Paolo Tognocchi Suzuki 500
Marcio Penteado Valle BSA 750
Vitório Barbulli Kawasaki 500
Carlos Eduardo Luzia Kawasaki 500

CLASSIFICAÇÃO FINAL

Colocação

Piloto

Estado Moto Nº de voltas
Walter Barchi São Paulo Yamaha TR-2B 350 100
Paolo Tognocchi São Paulo Suzuki 500 97
Denísio Casarini São Paulo Yamaha DS-7 250 94
Marcio Penteado Valle Rio de Janeiro BSA 750 93
José Oliveira Peixoto São Paulo Ducati 250 92
Antonio Carlos Aguiar São Paulo Ducati 250 90
Milton Benite São Paulo Honda 250 89
Denerval Ferraró São Paulo Yamaha TD-2 250 88
Sérgio Iasi São Paulo Yamaha YAS1 125 88
10º Salvatore Amato São Paulo Ducati 250 87


Por Ricardo Pupo
Dezembro / 2005

Fonte: Revista Quatro Rodas Nº 135, Outubro de 1971


 

Se você quiser, faça seus comentários sobre essa matéria !

Comentários:



Nome:   E- Mail:


Comentário dos Internautas:

Show !!! Que época boa.
Kleber Klein
(siacadastral@uol.com.br) Segunda Feira, 6 de Fevereiro de 2006, às 11:33:50


Parece sonho que tínhamos provas como esta em Interlagos. 100 voltas pelo Anel Externo, o longo retão, curvas 1,2,3 de alta velocidade. Tucano permaneceu por cerca de 2 horas sobre sua Yamaha 350 (refrigerada à ar ainda) , em meio à motos de 125, 250, 500, 750cc. Imaginem as ultrapassagens no retão, as diferenças de velocidade de uma moto para outra, o controle constante do conta-giros para poupar motor, a concentação, tentar fazer volta após volta dentro de um mesmo padrão, estar atento às falhas mecânicas o tempo todo (como aconteceu com a roda dianteira do Tucano), o reabastecimento à moda antiga, enfim coisa para mestres!
Outro aspecto apaixonante naquela época , era o absoluto silêncio antes da largada. Por uma fração de segundos havia atenção de todos no autódromo. Motos desligadas, olhos atentos no Sr. Eloy, os pilotos podiam ouvir o batidas do seu coração, e de repente, alguns passos, o tranco, e repentinamente o ronco de todos aqueles motores juntos indo pro mais alto regime de rotação. Era de arrepiar!  
Ricardo Vieira Guimarães
(rvguimaraes@ig.com.br) Domingo, 5 de Março de 2006, às 12:59:42


Só fico babando! Sensacional.
Tabajara A. Jorge
(miraassumpcao@terra.com.br) Domingo, 28 de Maio de 2006, às 17:27:31


MILTON BENITE É O MAIOR PREPARADOR DE MOTOS DAS AMERICAS , QUEM CONHECE ELE SABE
ROBERTO TATINI
(robertotatini@estadao.com.br) Quarta Feira, 12 de Julho de 2006, às 00:30:41


Não é Milton Benite Filho é Milton Benite
Felipe Leme Benite
(fe_aranha@ig.com.br) Sábado, 24 de Fevereiro de 2007, às 14:33:39

N.R. - Agradecemos pela observação. Já corrigimos o texto.


EU ESTAVA LÁ.
DIVA SONIA
(diva.sonia@terra.com.br) Sexta Feira, 18 de Maio de 2007, às 18:14:38