Aceita um copo de Leite ?


Também tinha os tradicionais pegas nas noites de sexta e nos sábados.

A gente se encontrava na orla da praia, rodando no sentido Ponta da Praia-São Vicente, e ia se juntando até chegar no sinal para pedestres que ficava na Divisa entre Santos e São Vicente, onde começava a avenida Padre Manoel da Nóbrega.

Na verdade, não tinha hora nem dias certos. Bastavam dois ou mais motociclistas se encontrarem ali com vontade de abrir o gás.

Esperávamos o semáforo ficar vermelho e alinhávamos para a largada. Motores roncando forte, o sinal ficava verde e largávamos. Eram cerca de seiscentos metros até o Itararé, onde havia barraquinhas de cachorro-quente, pouco antes da Ilha Porchat. A Manoel da Nóbrega tem o formato de um "S" alongado e era perfeita para esta perigosa brincadeira.

A RD 350 reinava bem neste tipo de pega de curta distância e muitas vezes deixei as sete galo a comer fumaça. Eu ainda tinha o espírito moleque de colocar óleo de mamona ou M50 no tanque de combustível para fumaçar mais e feder muito.  Quando eu chegava na frente oferecia um copo de leite pro pessoal que engoliu fumaça. Era preciso ajudar na desintoxicação dos amigos.

Claro que eu não ganhava sempre. E quando ficava para trás, também era vítima de muita gozação. Tinha muito camarada bom nas "four" da Honda, além das rapidíssimas Suzukis GT 380 e GT 750, sendo esta última o páreo mais duro.

Lembro que tudo isso era sem capacete. A obrigatoriedade do capacete só começou nos anos oitenta. Até então seu uso era obrigatório apenas nas estradas. O autor da lei que tornou o capacete obrigatório nas cidades foi o deputado santista Athiê Jorge Cury, que depois disso nunca mais se elegeu.

No início ficamos revoltados. Até campanha contra o deputado fizemos. Com o tempo fomos nos acostumando. Hoje não me sinto bem pilotando sem capacete.

Luiz Almeida

Fortaleza - Ceará

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