Andando sem pedal de marcha e embreagem
Sempre fui apaixonado por motos e a minha primeira foi uma RD 200, ano 73.
Fiquei com ela uns poucos anos e tive que vender. Juntei um pouco de grana e comprei uma TT 125 zero. Essa eu usei muito tempo.
Foi com ela que passei o pior aperto da vida.
Morava no Rio de Janeiro, no bairro da Tijuca. Costumava ir a praia de moto.
Num belo sábado de verão peguei ela e fui curtir o mar. Subi a pista da Floresta da Tijuca (um visual lindo!). Estava feliz da vida.
Quando acabei de descer a pista cheguei numa reta, que passa ao lado do clube de golfe.
Passei a quinta e fui curtindo o visual, o vento e todo aquele clima de fim-de-semana.
Ao final dessa reta tem uma pequena curva à direita e, em seguida, tem uma ponte sobre a lagoa. É uma ponte de mão única mas muito movimentada.
Quando fui reduzir a marcha para fazer essa curva: ....ué....cadê o pedal de marcha?
Meu pé passou em "branco". Não tinha mais nenhum pedal de marcha. O pedal tinha caído enquanto estava no retão e eu não tinha visto.
Ele era preso por um parafuso que o prendia ao pino. O parafuso tinha afrouxado e o pedal caiu com a trepidação.
Resultado: entrei na curva sem reduzir. Até aí tudo bem...deu para fazer bem, pois não estava muito rápido. Só apertei o freio e a embreagem, parando logo depois.
O detalhe é que tive que parar na saída da ponte, onde os carros passavam "tirando tinta do meio-fio".
Estava muito ruim, mas pensei que poderia procurar o pedal e voltar numa boa para casa. No mínimo poderia engatar uma terceira para poder dirigir até uma oficina. Foi aí que a coisa piorou de vez.
Como estava num lugar muito perigoso tentei subir na calçada para fugir do finos que os carros estavam tirando de mim. A moto estava engatada em 5 marcha e a calçada era muito alta. Fiquei de frente para a calçada e comecei a controlar na embreagem para subir. Aí o cabo de embreagem arrebentou !
A moto morreu e eu tive que puxar ela pra cima da calçada no braço. Eu pensei: E agora? O que faço?
Sem pedal de marcha e sem embreagem.
Não dava para empurrar a moto por muito tempo pois ela estava engatada em quinta.
Não dava pra chamar um socorro pois eu tava completamente liso.
Pensei o seguinte: Vou até uma oficina qualquer e peço um alicate para tentar engatar uma terceira, mas não tinha nada parecido com oficina por ali.
Voltei a pé para tentar achar o pedal e não achei. Agora era desespero mesmo.
Botei ela numa parte mais livre do asfalto, Liguei a chave e empurrei ela com a quinta engrenada até o motor começar a "soluçar" . Pulei nela e acelerei bem pouquinho. Ela engasgou, engasgou e começou a andar com aquele giro absurdamente baixo para a quinta.
Foi aumentando a velocidade e fui indo. Bom, tive que reduzir a marcha para quarta na força. Foi um tranco!
Senti a coitada reclamar. Ela ficou com um giro melhor para a velocidade que estava, mas ainda não era o suficiente. Então, pedi perdão a ela e "arranhei" mais uma marcha para baixo. Engatou a terceira. Agora dava para ir pois poderia andar devagar e controlar a velocidade no freio para não parar em sinais.
Caso isso acontecesse a moto iria morrer pois não tinha mais embreagem.
Voltei para casa com ela desse jeito.
Perdi meu dia de praia e fiquei pensando que nunca tinha passado tanto sufoco na vida.
Moisés de Miranda Barreto
Brasília - DF