COMPETIÇÕES

DUCATI NCR 900 ENDURANCE

"A Rainha de Montjuich"

 

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Vencedora das 24 Horas de Montjuich de 1975, pilotada por Benjamin Grau e Salvador Canellas, esta belíssima moto de endurance, da NCR, é o protótipo de uma pequena série de 900 cc produzida por Giorgio Nepoti e Rino Caracchi.


NCR significa Nepoti, Caracchi e Rizzi, as iniciais de tres sócios que em 1967 fundaram essa "escola de pensamento".

Rizzi, porém saiu, bem cedo, se retirando da sociedade, assim o "R", imediatamente de tornou "Racing".

Na NCR se trabalhava "no braço", sem o auxílio de computador e modelos matemáticos para projetar as modificações na moto, mas Caracchi e Nepoti eram capazes de virtuosísmos mecânicos de primeira ordem, e suas motos eram consideradas verdadeiras obras de arte !

A NCR começou nas competições no Endurance em 1975, quando o Campeonato Mundial, não existia ainda, e os apaixonados pelas provas de longa duração se concentravam na Copa de Endurance baseada estritamente em motos de série, que no caso da NCR eram as Ducati, que já haviam feito a inesquecível dobradinha nas 200 Milhas de Ímola com Paul Smart e Bruno Spaggiari.

E que a Ducati NCR era uma moto extremamente competitiva, não havia dúvida, e foi demonstrado pelo fato que nos anos em que foi usada nas provas de longa duração, a pequena fábrica bolonhesa colecionou muitos resultados com essa mesma Ducati, vencendo as terríveis 24 Horas de Montjuich, em Barcelona, os 1.000 Km de Mugello, e as 4 Horas de Misano. 

O sucesso em terras espanholas:

A vitória das 24 Horas de Montjuich em 1975, obtida pela NCR com os pilotos espanhóis Benjamin Grau e Salvador Canellas, é sem dúvida a de maior importância.

Os dois pilotos espanhóis eram grandes conhecedores do traçado e já haviam vencido duas vezes as 24 Horas, a primeira em equipes diferentes (Grau em 1972, Canellas em 1969) e depois em dupla em 1973, com um protótipo de 860 cc desenvolvido diretamente pelo Departamento de Competições da Ducati.

A prova de 1973 foi imperiosa: os dois assumiram a ponta da prova na terceira hora, depois de haver perdido 3 voltas por um pneu furado, e froam assim até o final. Venceram concorrentes mais cotados como Godier-Gernoud (Egli-Honda), Debrock-Chemarin (Honda Japauto) e Willians-Croxford (Norton Monochoque).


Benjamin Gau em ação nas 24 Horas de Montjuich de 1973 com a Ducati 860 cc, desenvolvida diretamente pela Ducati (seu peso era 180 Kg)

A façanha da Ducati, obtida pelo protótipo de 860 cc, teve na época grande repercussão, sobretudo na Espanha onde em fim de 1957 era criada a Mototrans, que era a Ducati espanhola.

A Mototrans se empenhava bastante na atividade esportiva, tanto é verdade que é que os pilotos oficiais da casa, como Farnè, Spaggiari, e Francesco Villa, frequentemente brilhavam com glórias em terras espanholas.

Antes de 1973, a última participação oficial da Ducati nas 24 horas de Montjuchi, teria sido em 1964, quando venceram Spaggiari e Mandolini com uma 285 cc. 

Claro que a vitória de Gau e Canellas teve uma notável ressonância na Espanha, e eles teriam tido o mesmo sucesso no ano seguinte, com a mesma moto, não fosse um problema no câmbio, isso na 16ª hora, quando estavam liderando com 8 voltas de vantagem sobre seus concorrentes diretos, Godier e Genoud, com a temível Egli-Kawasaki 1000.

Em resumo, com o sucesso de 1973, Grau e Canellas eram os pilotos mais indicados para conseguirem a vitória com a Ducati NCR em 1975, quando o departamento de competição da Ducati abriu espaço na equipe de Nepoti e Caracchi.

Mas Grau, não era piloto da equipe e iria competir na prova com uma pequena Montesa 2 tempos.

O piloto ofical da Mototrans era o jovem Franco Uncini, que na tomada de tempo da sexta, cai seriamente, e se machuca.

A equipe se esforça muito e passa a noite toda consertando a moto, para a competição que largaria no sábado às 8 horas.

Com Uncini fora, o Dr. Virgili, responsável pela Mototrans, convida Grau, que aceita imediatamente substituir o jovem italiano.

Assim estava novamente formada a dupla Grau-Canellas  !


Rino Caracchi dá os últimos retoques na NCR

Na largada, Canellas fecha a primeira volta em quadragésimo nono, e penúltimo lugar, mas depois de apenas mais uma volta, havia já colocado sua Ducati  em primeiro, passando os adversários como se fossem brinquedos !


Salvador Canellas se prepara para superar a Kawasaki 1000 de Luc-Vidal (2º colocados no final)

O ritmo dos dois espanhóis foi tão alucinante, que terminaram a prova com 11 voltas de vantagem sobre o sugundo colocado, os franceses Luc e Vial com sua Kawasaki-SIDEMM 1000 oficial !


Troca de pilotos. Benjamin Gau (a esquerda) se prepara para assumir. Abaixado, de camisa preta, Franco Farné supervisiona a operação. A parada mais longa foi de 4 minutos e 20 segundos, necessária para a troca dos pneus e substiutuição da corretne de transnissão.

E no mesmo ano, a NCR vence mais uma, os 1.000 Km de Mugello, agora pilota por Gau e Ferrari.

Ferrari e Perugini também venceram o Bol D´Or de Misano em 1976

Foi com uma Ducati 900 com preparação da NCR que Mike Hailwood conseguiu a sua mítica vitória no Tourist Trophy de 1978, na Ilha de Man.


A MOTO:

Nepoti e Caracchi partiram de um quadro levíssimo elaborado pela DAPSA (uma empresa bolonhesa que atualmente não existe mais).


Detalhe do quadro com o logotipo da DAPSA. Os carburadores são dois Dell´Orto PHM de 40 mm

Utilizando dois tubos em aço e cromo molibidênio, os engenheiros da DAPSA construiram um quadro de berço duplo aberto, com as medidas muito similares ao original, mas muito mais leve, cerca de 7 Kg a menos (de 19 para 12 !).

O bicilindrico em V a 90º da estradeira 860 GT foi profundamente reestruturado por Nepoti. 

O cabeçote foi retrabalhado e as válvulas foram aumentadas em 2 mm (admissão, de 40 para 42 mm, e escape, de 36 para 38 mm). 

A cilindrada passa para 946 cc, aumentando o diâmetro em 4 mm, e utilizando pistão Borgo.

O virabrequim original standard é trabalhado e aliviado para apenas 74, kg, com biela e volante.

Também as bielas eram mais leves que as originais e em lugar de estampadas, são forjadas.


A "ponte de comando" somente com um contagiros Veglia

Para melhorar o circuito de lubrificação, visando as massacrantes  provaS de Endurance, o reservatório de óleo é redesenhado, aumentado, e otimizado. E também é montado um pequeno radiador de óleo, mas o filtro e bomba de óleo foram mantidos os originais. 

O cambio é modificado com engrenagem de dentes rápida e montada um embreagem experimental a seco (a original é banhada a óleo), dotada de uma belíssima tampa perfurada.


A bela tampa da embreagem

 


detalhe do pedal de cambio 

Este motor serviu de base para produzir na Ducati uma série limitada de bicilindricas que disputaram as provas de endurance de 1975 a 1985. Todas levavam o kits e componentes da NCR.


Dois detalhes que fazem entender o cuidado da NCR na realização da sua própria moto. A esquerda, o belíssimo excentrico no eixo da roda traseira, para regular a tensão da corrente. A direita, os freio a disco anteriores de 280 mm, perfurados no sentido radial 

 


Conjunto óptico, com o "number plate" levantado.

A NCR pesava, em ordem de marcha, pouco mais de 150 kg, um valor muito interessante, se lembrarmos que a moto standard pesava 60 kg a mais.

E é na própria leveza que consiste a chave do sucesso da Ducati NCR, porque sem o seu peso pluma os pouco mais de 94 CV fornecidos pelos seus dois cilindros em "L", certamente seriam poucos contra os 104 CV da Honda Japauto e os 100 CV da Kawasaki SIDEMM.


Uma potente 900, com frente de "cinquentinha" !

A NCR foi a primeira equipe a transformar as Ducati em verdadeiras motos capazes de vencer provas importantes.


Por diversas temporadas Giorgio Nepoti e Rino Caracchi elaboraram e melhoraram a Ducati, com a bravura que eram capazes, mas eles se retiraram oficialmente ao final de 1979, depois que o campeonato de Endurance começou a ser dominado totalmente pelas máquinas japonesas.

Fazer frente a protótipos como a Honda RCB 1000, mesmo com todo esforço e dedicação dos dois técnicos bolonheses e o apoio da Ducati, não era possível, principalmente pela enorme verba que a fábrica japonesa dispunha para seu departamento de competições.

Vinte e sete anos durou a aventura da NCR, que fechou as portas em final de 1994, quando Nepoti e Caracchi oficialmente se aposentaram, mas continuaram a trabalhar no meio, o primeiro como um apreciado restaurador de Ducati, e o segundo como engenheiro da 998 SBK (na moderna NCR de Stefano Caracchi, filho de Rino).

Os brilhantes Giorgio Nepoti e Rino Carachi, com sua genialidade e arrojo tecnológico criaram uma das mais belas e eficientes motos de competição dos anos 70 ...

DUCATI NCR 900 ENDURANCE

"A Rainha de Montjuich"


Uma verdadeira "puro-sangue" !!!

 

FICHA TÉCNICA


Por Ricardo Pupo

Fontes: Revista Moto Ciclismo d´Epoca, ano 9, Nº 11.


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Comentários:


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Comentário dos Internautas:

 

Baabeeii !! Sensacional ! Que moto maravilhosa! Só copiando ela a japonesada consegue bater.
Tabajara A.Jorge
(miraassumpcao@terra.com.br) Domingo, 11 de Junho de 2006, às 16:30:21


Mais um retrato da genialidade dos eng° Italianos, quando se trata de criar e desenvolver equipamentos de competição.
Muito bem descrito pelo grande Pupo.
É muito interessante ler a matéria, voce vai se envolvendo e parece participar do que é descrito......
Parabens Pupo.
Forte abraço.
E. Montessanti Jr (Montes)
(montes78@terra.com.br) Segunda Feira, 19 de Junho de 2006, às 23:00:41


linda materia! sou um dos felizardos que tem uma classic 2006,como são identicas...muito bom. Parabens
Gioveroni
(gioveroni@terra.com.br) Segunda Feira, 1 de Janeiro de 2007, às 20:06:29


Eu tive o prazer de ver essas máquinas correndo em Montjuich em 1977 e 1978 anos em que a Honda France com a dupla Leon-Chemarin ganharam, porém o piloto Benjamim Grau em 1977 só perdeu a ponta devido a um choque com a Honda onde ambos caíram mas a Honda foi mais eficiente nos reparos e voltou na frente para não perder mais a liderança. Grandes momentos da minha vida !
Emilio Gimenez Montero "Espanhol"
(emilio@emifran.com.br) Sexta Feira, 18 de Maio de 2007, às 19:40:06


Can an english translation be possible ?
Kent
(kent.jornevall@swipnet.se) Sábado, 18 de Agosto de 2007, às 17:14:32

N.R. - Dear Kent, use a internet translator, like the Altavista Babel Fish http://babelfish.altavista.com/tr