Pelas curvas da serra de São Pedro

 

              Meu refúgio predileto, para esquecer um pouco da rotina, é a estrada que liga São Pedro a Itirapina, que tem quase a totalidade de seu percurso no alto da assim chamada “Serra de São Pedro”, passeando de preferência sozinho, acompanhado apenas por Deus e minha motocicleta.

          É um belo passeio, estrada com asfalto ainda razoável, cheia de curvas e emoldurada por belíssima natureza, formando um ambiente que faz a mente viajar mais longe  que aquele próprio espaço.

          Em um desses passeios, notei pelo  espelho, que um farol solitário aproximava-se rapidamente. Acabei ultrapassado por dois motociclistas que montavam uma Honda 250 Twister. Simpatizo com essa moto desde seu lançamento e, por curiosidade, resolvi acompanha-los para ver o rendimento da máquina. Marcha para baixo e mais aceleração para  se aproximar dos dois, ou melhor, tentar me aproximar. Essa estrada, apesar de já estar no alto da serra, é cheia de curvas, com subidas e descidas, até mesmo com mais uma “serrinha” toda sinuosa.

          As curvas se sucediam e nada da Twister diminuir o ritmo. Eu, de minha parte, já estava começando a acelerar um pouco mais do que estou acostumado há andar, mas nada da distância diminuir. Comecei a pensar: “_ Puxa, a moto anda bem! Mas os caras estão em dois em uma 250!!”

 Mais acelerador.

         A essa altura, eu já estava andando a 100, 110 km/h em trechos que não costumo passar de 80, 90 km/h; algumas curvas ficando meio “quadradas” e a tal moto mantendo sua tocada. “_ Bom, o cara pilota bem, mas mesmo assim...”. Um pouco mais de acelerador.

          Chegamos à “serrinha”, e finalmente a 400 Four fez a diferença. Em um trecho de curvas em subida, graças aos então poucos “cavalinhos” a mais e duas ou três curvas melhor aproveitadas ( afinal,depois de um monte delas treinando...), consegui aproximar-me dos dois. Cheguei, mas não consegui passar, eles ainda andavam mais que eu. Ao olhar um pouco mais de perto, vi que o cara toca realmente bem, sem erro nem hesitação, curvas bem feitas mesmo com garupa e velocidade constante.

          Após essa “serrinha”, existe uma reta de uns 3 km no trecho final da estrada. “_ Agora sim!”, imaginei, virando o que restava do curso do acelerador. 120, 130, a velocidade subindo e a Four procurando mais algum  “restinho” para andar mais, e os caras abrindo distância! Enfim, atrapalhado por um caminhão e lembrando que tenho dois filhos me esperando em casa, resolvi desistir da brincadeira.

          Parei no acostamento, pensando naquilo que havia acabado de acontecer e, em um monólogo imaginário com minha moto, suspirei: “_ É, minha cara “quatrocentinha”, acho que já fazemos parte de outra época!”

          E pensar que nunca fui um bom “piloto”...

Carlos Trivellato