O motociclismo mudou ?

 

          Meu interesse pelas motocicletas clássicas não nasceu por acaso, afinal, tive a oportunidade de vivenciar um pouco da época em que elas eram verdadeiros objetos de adoração por parte não só de motociclistas mais abonados, mas também por aqueles que nem moto tinham, mas sonhavam com a possibilidade de um dia possuir uma.

          Por algumas circunstâncias pessoais, apesar de ter moto há um bom tempo, acabei ficando longe do motociclismo em geral por um período, porém, lembro-me de como eram as ocasiões quando os entusiastas reuniam-se para curtir essas máquinas. Entre o final da década de setenta e o início dos anos oitenta, as motos aqui na região de São Pedro não eram numerosas como atualmente e não existiam os encontros de motociclistas; a oportunidade de se reunir a “galera” motociclística surgia durante eventos esportivos, tais como as corridas de motocross de Tietê ou Rio Claro, ou ainda, as corridas de kart que aconteciam em Limeira. Como não existiam muitas motos estrangeiras na época, com exceção das importadas antes da “lei seca” e algumas contrabandeadas, quando surgia alguma moto dessa safra, transformava-se em verdadeira atração, logo aglomeravam-se pessoas junto ao proprietário para informações, curiosidades ou simplesmente para um “papo furado”. Existia uma certa harmonia entre as classes de motociclistas, que tinham em comum o cuidado e a atenção com suas máquinas, afinal, não era muito fácil conseguir uma moto naquela época, seja por motivos financeiros ou até mesmo, pela menor oferta do mercado de então.

          O tempo passou, o fantasma da proibição das importações acabou, a motocicleta passou a ser um veículo mais acessível para grande parte da sociedade e a qualidade de equipamento melhorou muito, até mesmo para os menos abonados, que hoje encontram uma grande oferta de motos de boa qualidade, ao contrário do que acontecia há alguns anos, quando uma moto importada usada, valia mais que modelos nacionais novos. Ao ouvir falar dos encontros motociclisticos pela primeira vez, imaginei um evento realmente utópico, onde encontraria um pessoal entusiasta e engajado no motociclismo, tendo a oportunidade de finalmente ver aquelas belíssimas motos que por tanto tempo ficaram escondidas em porões ou presas nos fatídicos pátios da Polícia Federal. Passado algum tempo, confesso que freqüentei uma meia dúzia desses eventos, em alguns deles, levei até meus filhos ( imagine... ). Mas, confesso que não encontrei quase nada daquilo que esperava. As clássicas, devem continuar escondidas; o espirito de confraternização entre os motociclistas, foi substituído por conversas vazias de alto teor etílico ( na melhor das hipóteses... ), tudo isso emoldurado pelo barulho e cheiro queimado vindos da destruição de motos a que chamam de whelling ( por não ser praticante, ignoro até mesmo a grafia... ) e “zerinhos”, que devem ser realmente emocionantes para quem os pratica, mas de extremo perigo e mau gosto para quem os assiste.

           É, acho que o motociclismo mudou, se para melhor ou pior, cabe a cada um julgar. Eu, de minha parte, continuo com minha utopia, sonhando com um evento onde possamos curtir nossas clássicas com tranqüilidade, como antigamente, podendo até mesmo levar nossos filhos e mostrar-lhes um pouco daquelas máquinas que povoavam nossos sonhos de adolescentes. Mas, enquanto não acontecer, vou escrevendo minhas histórinhas para o MC 70. Um grande abraço!

 

                        Carlos Eduardo Trivellato