HÁ MEIO SÉCULO PABLO MIHALKA ABRIU O CAMINHO VITORIOSO !



                             

 

Texto: Octávio Estrada - Venezuela
Tradução e lay-out: Ricardo Pupo
Dezembro / 2004

 

"Todas as histórias  que ocasionalmente podemos escrever nos representa uma enorme satisfação pelo prazer de fazer conhecer - àqueles amantes dos esportes a motor - parte dos trunfos de nossos heróis, mas nesta oportunidade o gosto é em dobro porque um deles, don Pablo Mihalka, nos contou ao "vivo" ! O homem que abriu a porta dos triunfos internacionais para o motociclismo venezuelano segue vivo e agitando nos Estados Unidos, e graças à "Santa Internet", pudemos encontrá-lo ! "


Lima, 1953 , primeiro trunfo venezuelano no motociclismo Internacional.

Falar do motociclismo venezuelano, significa referir-se não só a uma das instituições desportivas de maior tradição e respeito, senão também a uma das mais laureadas em competições internacionais, e também do exitoso caminho que se iniciou há  50 anos, quando ao guidão de uma máquina Velocette de 350 cc, Pablo Mihalka se impôs no Circuito La Herradura, traçado urbano situado no litoral limenho.

A meio século daquele significativo gesto, lhes oferecemos uma pequena crônica, colorida com apontamentos do próprio protagonista, Pablo Mihalka.

Eram épocas de verdadeiros valentes, onde os pilotos usavam um modesto capacete aberto, um par de óculos para defender-se das pedras lançadas pelas motos que iam à frente e um traje de couro negro para proteger-se de eventuais quedas. Por não existirem circuitos permanentes, era normal se competir em circuitos situados no meio das cidades, passando entre fileiras de postes, calçadas e o público aficionado que delimitava o caminho.

A Federação Motociclista da Venezuela, fundada em 1950, na mão do Dr. Jesus Reina Morales, acolhia pela primeira vez uma prova do denominado Campeonato Sul-americano de Motociclismo (sem dúvida o precursor dos futuros certames latino-americanos), competição anual que reunia os melhores expoentes da região, onde por tradição e antiguidade, a Argentina estava na vanguarda com figuras como Juan Salatino, enquanto os locais contavam com o não menos experiente Teodoro Roth.

Nesses primeiros anos, as competições de motos na Venezuela aconteciam junto aos programas automobilísticos que também davam seus primeiros passos nas ruas de várias cidades, especialmente nas zonas residenciais que buscavam promoção, como Santa Mônica em Caracas ou Tanaguarena no Litoral Central, sem esquecer rotas abertas como a clássica subida de Pedro Garcia em Maiquetía. São tempos que o país é governado por Marcos Pérez Jiménez, um militar com especial afeto por aos esportes a motor.

A paixão natural dos imigrantes europeus pela velocidade de imediato tem acolhida na Venezuela, terra que oferece grandes possibilidades econômicas, além de contar com vias de primeiro nível, combinação ideal para o desenrolar do motociclismo. Este entusiasmo encontra nos italianos seus mais fervorosos protagonistas ao guidão de fabricados peninsulares das marcas Gilera, Benelli, Guzzi, Ducati e MV Agusta, que enfrentam as clássicas britânicas AJS, BSA, Triumph, Norton e Velocette, sem esquecer as germânicas DKW, conduzidas por nativos de distintas camadas sociais assim como europeus provenientes de todas as regiões do Velho Continente.

Para esse primeiro compromisso internacional pautado em Lima, no mês de novembro de 1953, a nova equipe venezuelana identificada por capacetes de cor branca, divididos simetricamente por uma faixa tricolor, era formada por seis de seus melhores expoentes, comandados pelo já várias vezes campeão nacional Lambert Danzer, um alemão que chegou ao país após o conflito bélico que assolou a Europa apenas alguns anos antes. Junto a ele, estavam num voo comercial da Aeropostal , José Antonio Vivas, conhecido como "El Negro Vivas", Juan Torne, Rodolfo Blanco Uribe, Pedro José Bettancourt e Pablo Mihalka, este último oriundo da Hungria e que como milhares de europeus chegaram à América, e especialmente à Venezuela em fim da década de 40.

Com 23 anos, Mihalka tinha apenas duas temporadas completas no motociclismo, pois em 1951 recém começava a montar em motos tendo como maestro o mesmo Lambert Danzer. E também foi companheiro de estudo no colégio La Salle, de outro jovenzinho amante do risco chamado Maurizio Marcotulli, que fora campeão nacional de motociclismo em 1951 antes de passar aos carros, modalidade que também praticava Carlos Mihalka, irmão maior, de Pablo. Assim, depois de conseguir um título de novatos na temporada de 1952 com uma AJS de 500 cc, Pablo Mihalka viajou ao Perú para competir com os melhores pilotos da época, enfrentando, entre e outros, o peruano-suiço Teodoro Roth, e também o seu próprio companheiro de equipe o "Negro Vivas" .

Assim se recorda Pablo Mihalka:

"A delegação era encabeçada por Dr. Jesus Reina Morales, presidente da FMV, e estávamos assistidos tecnicamente por Antonio Zeichen, um alemão que era dono de uma agência DKW situada em Sabana Grande. Os pilotos eram Lambert Danzer, em uma Triumph 500, José Antonio Vivas em uma AJS 350, Pedro Betancourt em uma AJS 250, Rodolfo Blanco Uribe em uma DKW 250 e Juan Torne com uma DKW 125, enquanto eu levava uma Velocette de 350 cc, modelo MAC. Viajamos ao Perú no Aeropostal, que mantinha um vôo semanal sem escala Caracas-Lima com avião Lockheed Constellation. Para nossa viagem foram retiradas metade das cadeiras da cabine e ali iam as motos. Eram 14 horas no ar com duas tripulações a se revezarem. Durante todo o vôo o que se passava na minha cabeça era como Simón Bolivar e seu exército se dirigiram para fazer a mesma rota a pé e depois sair vitorioso das batalhas ! "

Com precisão, Pablo Mihalka oferece detalhes de sua máquina:

"A moto tinha as seguintes características. Um pistão extremamente longo, algo como 68mm X 96 mm, válvulas acionadas por varetas e caixa de câmbio de 4 velocidades, porque as de 5 ainda não haviam sido criadas. O peso, não me recordo bem, mas estimaria uns 130 kg. A potência oficial era de 16 cavalos de força, velocidade máxima de 72 milhas por hora, ou 116 km/h. Depois da preparação, conseguíamos uma velocidade final de 149 km/h medidos em quilometro lançado - com o peito e o queixo grudados no tanque de gasolina - e uma potência estimada em 25 a 30 HP."


Pablo Mihalka e sua Velocette !

Mihalka continua:

"Toda a preparação do motor e era a base da modificação do bloco original. Não existiam peças especiais para melhorar o rendimento. Toda a árvore de marchas foi trabalhada a mão e endurecido na sua superfície. A moto não falhou uma só vez ... terminei todas as corridas que me inscrevi e meu pior resultado foi um terceiro. E ainda, eu tinha um handcap desfavorável, porque nos meus melhores tempos cheguei a pesar 85 kg, enquanto que a maioria dos meus competidores tinham em média 60 kg ou menos, e em motos de 25 cavalos de força se notava muito. No circuito La Herradura, que tinha seis quilometros, havia uma subida onde passávamos por um túnel e com uma superfície que não era 100% de asfalto, se fazia em uns 4 minutos nas motos de 500 cc, corrida que ganhou o argentino Juan Salantino com uma Gilera Saturno Corse.

Na 350 cc, eu levei a vitória, depois de cobrir as 10 voltas à uma média de 4'09", e marcar o novo recorde com 4'08". Foi tal minha regularidade que ganhei o apelido de 'o cronômetro'.

O peruano Roth, que correu com uma Royal Enfield não pôde acompanhar o meu ritmo e assim conseguimos a vitória !"


Pablo comemorando sua conquista em solo peruano !

Hoje, aos seus 73 anos de idade, Pablo Mihalka segue ligado ao mundo da moto em uma importante loja da marca BMW, e bem reside nos Estados Unidos porque um belo dia de 1982 se cansou das absurdas leis de transito venezuelanas que o impediam de circular livremente por qualquer via pública em sua motocicleta, ou no melhor dos casos, sem ser tratado como um delinqüente. Foi por isso que deixou o país que o recebeu, não sem antes publicar uma carta aberta num jornal nacional onde expressou seu desgosto. Mas o prazer pelas duas rodas não desapareceu e graças a internet e a intuição de Eduardo Muñoz Filho, pudemos encontrar o endereço eletrônico de don Pablo, quem nos ofereceu detalhes primorosos daquela conquista conseguida nas costas do Pacífico já há meio século.

A transcendência daquele triunfo de Pablo Mihalkas vem devido ao feito de haver sido o primeiro de uma longa cadeia de conquistas que a partir de então levariam o motociclismo venezuelano a ser considerado como o mais forte da América Latina onde se destacam 4 títulos mundiais graças a Johnny Cecotto e Carlos Lavado, assim como dezenas de coroas sul-americanas e latino-americanas nas provas em asfalto, êxitos a que depois se somariam à dos especialistas em motocross, enduro e trial.

Apenas um ano depois, em 1954, "El Negro Vivas" retornou ao Perú, tanto no "La Herradura" como no Campo de Marte para impor-se nas 350 cc e nas 500 cc, convertendo-se em um dos maiores ídolos da época, enquanto de Nápoles chegava à Guaira um tal de Andréa Ippolito junto com uma Guzzi 250 cc. E Pablo Mihalka ganharia o título na categoria superior, 500 cc ao guidão de uma Gilera Saturno, para imediatamente "pendurar o macacão de couro".

Depois realizaria esporádicas apresentações no automobilismo como quando estreou um Cisitalia de Fórmula Junior no Grande Prêmio de Trinidad de 1958, onde também conduziu um Panhard. Mihalka se manteve no ambiente de corridas seja como fotógrafo, cronista ou autoridade desportiva, para retornar em 1972 como co-piloto de rally com Ernesto Soto, ganhando o título nacional. 


Don Pablo Mihalka !!

 

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Comentário dos Internautas:



Excelente matéria, ainda mais por se tratar do meu "xará" !
Parabéns !
Pablo Ferreira
pablo@braspine.com.br  (Terça Feira, 6 de Janeiro de 2004, às 13:02:51)


Idem, a matéria é 10!
Pablo Miranda
mangv@bol.com.br  (Sexta Feira, 8 de Outubro de 2004, às 01:08:04)


Não sou xará, mas não poderia deixar de parabenizar a iniciativa deste Brasileiro que foi buscar longe, algo inusitado, e tão pouco tratado pela mídia atual, pelo que sempre falta o que ler sobre o motociclismo pré 1960, e principalmente, da America Latina. Parabéns!

nome: Vinícius Caires
Domingo, 3 de Agosto de 2008, às 17:36:29


Me emociono leyendo estos comentarios ya que estuve presente en aquellas carreras. gracias amigos.
Fabian Trujillo
fabiantrujillop@yahoo.com


Quisiera saber el E Mail de Pablo, ya que soy amigo de el,y me gustaría saludarlo
nome = Lorenzo Centeno
autosclasicos@cantv.net