Test Drive
HONDA CB77 - 300


A primeira vez que vi a Honda CB77, foi no final dos anos 60, mais precisamente entre 1967 e 1968 quando eu, com minha Leonette, conversava com o pessoal que freqüentava a rotatória em frente ao Estádio do Pacaembú, na capital paulista, com suas Honda C110, S65 dentre outras.


por:  Marcos V. Pasini




Honda CB77

Estávamos conversando, então, quando chegou entre nós (não me lembro por que motivo) um motociclista, novo ainda, mas, para nós bem mais velho pois, pelo jeito, já tinha até carteira de habilitação (...)

Ele pilotava uma Honda ENORME com 2 cilindros!!! (ainda não tinham chegado as CB125K2).
Ela era branca (não sei se a cor era original) com o n°300 escrito abaixo da “asinha” Honda, no distintivo do tanque...

Caramba!!! 300 cilindradas!!! Tudo isso???!!!!

O piloto ficou conosco um pouco, até que esgotássemos o repertório de perguntas e elogios à mecânica japonesa, depois acionou a partida elétrica e saiu em uma vertiginosa (...) arrancada.

Depois disso nunca mais tive contacto com esse modelo, até aparecer a moto do Flávio, em uma matéria de uma revista especializada, ha algum tempo atrás.

Mais tarde, por intermédio do Motos Clássicas 70, nos falamos por e-mail para agendar um test-drive com este, no Brasil, raríssimo modelo.

Por várias razões este teste tem sido adiado já ha alguns meses mas, hoje, finalmente, tive o prazer de poder pilotar uma “Honda 300”!!!


o prazer de pilotar a Honda CB77

A Honda CB77:

Esse modelo retrata o estilo das motocicletas japonesas dos anos 60, que tinham como característica básica as duas chapas cromadas colocadas simetricamente no tanque, com apoios (“pads”) de borracha para os joelhos e o logotipo da marca parafusado na extremidade dianteira da placa cromada, no tanque de combustível.


detalhe do tanque de combustível

Alguns exemplares tinham os para-lamas pintados em cinza claro, outros eram cromados.
No caso do modelo testado eles são cromados.

Um detalhe interessante é que dois tipos de motores SOHC (comando simples no cabeçote) de 305cc eram fornecidos para esse modelo.

O Type-1 (caso do modelo testado), que tem o virabrequim defasado em 180°, para fornecer mais potencia e o Type-2, com a defasagem de 360°, para proporcionar mais torque.


detalhe da inscrição  "Type-1" na tampa cromada

Dentro do nosso universo Tupiniquim, isso pode ser exemplificado tendo como base a nossa CB400 nacional, onde a defasagem é de 360° e na nova Honda CB500 brasileira, onde o virabrequim está defasado em 180°.

Podemos perceber isso na freqüência do ruído do escapamento que, na CB400 é mais “liso” e na CB500 é mais “áspero”.

Essa moto é conhecida, também como “Honda 300”, apesar de seu motor ser de 305cc, o que causa alguma confusão, na hora de se referir a este modelo que, “extra-oficialmente”, é também conhecido como “Honda 305”.

O filtro de ar é do tipo “elemento seco” posicionado no lado direito e fechado por uma tampa metálica.


filtro de ar tipo seco

O cambio é de 4 marchas, como na maioria das motos da época, com marchas super-longas e a transmissão final (pinhão/coroa) situando-se no lado direito da moto, ao contrário da tendência japonesa pós-70, que é no lado esquerdo.

Outra curiosidade é o pedal de partida, situado quase no centro da tampa lateral direita do motor e com o acionamento para a frente!!!


pedal de partida

O painel é, também, interessante.
Velocímetro e conta-giros conjugados em um só painel, que fica embutido na caixa do farol.


painel conjugado
notem o comutador de farol alto/baixo à esquerda
e a luz de farol-alto à direita

A chave comutadora do farol alto e baixo, fica, também, na caixa do farol, sendo que o acionamento deste é pela chave de contacto, que situa-se (perigosamente) na caixa de cobertura da bateria, do lado esquerdo, logo abaixo do assento do piloto (...)

Chave na tampa de abastecimento do tanque de combustível? Esqueçam...Isso não existia naquela época...  


da para se perceber a tampa do tanque sem miolo da chave

O freio traseiro é acionado por meio de cabo, ao invés de varão, que nos anos 70 equipavam as motos nipônicas.


freio traseiro acionado por cabo
notem a coroa do lado direito da roda

O dianteiro é um eficiente tambor “duplex”, típico, então, das médias cilindradas japonesas.


freio dianteiro a tambor, "duplex"

O sistema de direção conta com a ajuda do “fermasterzo” (regulador de carga na torção do guidon), que colabora com a estabilidade na pilotagem.


notem o "fermasterzo" ao centro da mesa

A suspensão dianteira é com molas externas, cobertas com duas capas metálicas (“canecas”), e a traseira é com braço oscilante e dois amortecedores hidráulico e molas (bi-choque).

O quadro tubular não é em berço, como de costume.
O motor fica "em balanço", preso por trás e por cima, no cabeçote.


motor preso ao quadro por trás e pelo cabeçote

O conjunto óptico e bastante generoso na frente, com um belo farol mas peca um pouco na traseira, onde uma pequena lanterna faz o serviço de iluminação traseira e “stop-light”.

Esse modelo não conta com sistema de setas (pisca-pisca).  


detalhe do conjunto óptico
notem a ausência das setas

Somente o freio traseiro dispõe da luz de “stop”.

O pedal da garupa, conta com duas posições de fixação, visando adequar melhor o conforto de quem é o(a) “garupeiro(a) oficial”...


duas posições para o pedal de garupa

A CB77 foi fornecida nas cores preta, azul e vermelho.

Pilotando a Honda CB77:

Após tantos anos, quando a “Honda 300” me pareceu ENORME, ao me sentar nesta motocicleta, me pareceu ser super compacta e confortável.

A emoção de acionar o impecável sistema de partida elétrica e ela responder de imediato com o seu “áspero ruido”, é indescritível...Caramba, “ói ela aqui, minha gente!!!”


pilotando a Honda CB77

Minuciosamente restaurada, esta CB77 parece saída de uma revisão de 3000km!!!

Engata-se a 1a. marcha tal qual uma Honda “0km” e tudo funciona como ha 35 anos atrás...


como nova...

As marchas, como era de se esperar, são bastante longas, mais notadamente a 3a. e a 4a.

Isso é perfeitamente contornável pois, apesar de seu motor ser o “Type-1”, que é típico para potencia, seu torque não fica atrás, fazendo seu motor levantar o giro e, com ele, movimentar a moto proporcionando um bom “performance-feel” (sensação de desempenho).

A posição de engate é da maneira convencional atual, ou seja, primeira “para baixo” e as outras “para cima”, com o pedal situado no lado esquerdo da moto.

Nas curvas, ela está dentro do que se espera em uma bi-choque em bom estado de conservação.
Sem demérito nenhum!
Ela está com seu conjunto de chassis/suspensão todo “justinho”, não causando insegurança em variações de pavimentação e curvas.

Quanto aos freios, senti alguma dificuldade para me acostumar com a pedaleira do freio traseiro, quando esbarrava a ponta da minha bota no pedal de partida (esse é um comentário, no mínimo curioso...).

Mas, em uma moto como essa, o piloto tem de ter a sensibilidade para se adaptar à máquina.
Eram assim, os antigos e clássicos motociclistas...


perfeitamente adaptado...

O freio dianteiro, se deixar, cuida de tudo sozinho.
Impecável!!!


tocada suave...

Os comandos são “padrão Honda”, super macios, proporcionando uma pilotagem super confortável.

A altura do assento ao solo é ótima para pilotos de 1,70m, transmitindo bastante segurança.
O banco é um pouco estreito para os padrões atuais mas, se comparado a uma moto européia da mesma época, ele é um sofazão!!!


boa altura do banco ao solo

A moto é bastante leve e maleável para se pilotar, colocar e tirar do cavalete central e pequenas manobras com o motor desligado.

Parece ter sido feita sob medida para o uso urbano.

O ruído do motor e escapamento não incomoda nem piloto nem transeuntes.

Ela, para os padrões dos anos 60~70 é bastante silenciosa.

Os escapamentos contam com a “flautinha”, que é um abafador absorsivo, removível para limpeza, muito utilizado nos anos 60 e meados dos 70, e que a gente costumava tirar para dar um “algo mais” no ronco dos motores de nossas “cinqüentinhas”...


som agradável do escapamento

Essa motocicleta, dá vontade de se pilotar por horas a fio, não só pelo seu conforto e desempenho como pela “viagem aos velhos tempos” que dirigir uma máquina deste naipe proporciona!!!...

Ficha Técnica - Clique aqui

O Flavio, mantém alguns "souveniers", alusivos ao modelo CB77.


camiseta


quadro


isqueiro


manual do proprietário


Honda CB77 – A “Honda 300” (ou 305?)  


Honda CB77


Este teste foi realizado na capital paulista, nas ruas e avenidas do bairro de Vila Mariana


Nossos agradecimentos ao amigo Flávio que, muito gentilmente, permitiu que fizéssemos este test-drive em sua impecável Honda CB77


Se você quiser, faça seus comentários sobre essa matéria

Comentários:


Nome:   E- Mail:


Muito boa esta matéria, só notei a lanterna traseira que é dos anos 90, acho que não seria dificil ele conseguir uma dos anos 60/70.

nome: Luis Augusto
(galeria@motosclassicas70.com.br) Quarta Feira, 4 de Fevereiro de 2004, às 11:28:14

Caro, Luis
Notei que a lanterna traseira da CB77 é igual à da minha Honda S65 1968 (que eu tenho certeza que é uma original dela, marca "Stanley").
Por isso acredito que a Honda, naquela época, devia adotar o mesmo modelo de plásticos de lanterna em algumas motos de sua produção e, portanto, deve ser original.
Abraços
MP


Da gosto de ver!!!

Essa moto esta linda!!! Nota-se que foi minuciosamente restaurada!!! Um avião!!!Marcos Pasini, você deve ser um motociclista de primeira, pra conseguir passar tantos detalhes de dirigibilidade de uma moto dando apenas uma volta!!!

Parabéns ao Flávio, por conservar uma preciosidade desta...eo ao Marcos Pasini, por nos descrever como e pilotar uma moto tão rara como esta !!!

Muito obrigado!!!!

nome: Vitor Garcia
(saragotza@ig.com.br) Quinta Feira, 5 de Fevereiro de 2004, às 17:19:46

Caro Victor,
Obrigado por suas palavras amáveis.

Um abraço
MP


Belo testdrive dessa joinha tao em forma e lustrada , valeu Pasini e parabens ao Flavio.

nome: amauri
(ambotelho@hotmail.com) Terça Feira, 10 de Fevereiro de 2004, às 02:05:13


Caro Marcos:
Gostaria de aproveitar e agradecer a oportunidade a matéria "Teste do Mês" e esclarecer ao internauta Luis Augusto, quanto à lanterna traseira, importada do Japão, que é absolutamente original.
Qualquer dúvida, ainda possuo a original, que por estar com uma ligeira trinca e ainda, por ter encontrado uma novinha, preferi instalar esta última.
Mas asseguro que a peça instalada na moto é 100% original e "made in Japan".

Um grande abraço.

Flávio.

Flavio, obrigado pela sua atenção em sanar a dúvida de nosso internauta!
Abraços
MP


Parabéns pela reportagem.
Me deu água na boca de vontade de dar uma voltinha.

nome: Renato
(galeria@motosclassicas70.com.br) Terça Feira, 10 de Fevereiro de 2004, às 19:36:25


Muito boa a matéria sobre a Honda 300 do Flávio, que é um modelo rarissimo. Segundo o proprio Flavio, só existem duas unidades deste modelo no Brasil. Está impecavel e foi realmente (e ainda é...) uma sensação em sua época.
Parabéns ao Flávio por sua raridade, impecavelmente conservada.

nome: Julio C. Carone
(julio.carone@motonline.com.br) Quarta Feira, 11 de Fevereiro de 2004, às 01:42:25


Parabéns ao Flávio, eis uma raridade mesmo , só tinha ouvido falar desta moto algumas vêzes...

nome: Alexandre Pacheco dos Santos
(aletunari@ig.com.br) Domingo, 15 de Fevereiro de 2004, às 13:23:31


Ola pessoal gostei muito da materia seria possivel fazer uma da cb 500 twin 76.agradeço .

nome: João Porto
(jocaporto@bol.com.br) Domingo, 29 de Fevereiro de 2004, às 01:16:33

Olá, João
Em breve faremos um teste com a CB500T.
Abraços
MP


Cara, d+ essa matéria ta perfeita ,é a primeira vez que acesso este site e ja fiquei amarradão, sou apaixonado por CB's ,tenho CB400/1983 que é meu chodó, to personalizando ela e gostaria de o que vcs tem sobre a 400 ,

nome: gerson luis
(buzuclo@bol.com.br) Terça Feira, 2 de Março de 2004, às 13:49:44

Olá Gerson
Temos o Teste com a Honda CB400 1980.
Procure em "Matérias Anteriores".
Abraços
MP


A moto toda e muito bonita, painel lindo, etc.. No Japão tem um clube so de dassa moto maravilhosa. Notem que o desenho ja começava a deixar de copiar as inglesas pouco a pouco.

nome: Tabajara A.Jorge
(miraassumpcao@ig.com.br) Sábado, 26 de Junho de 2004, às 12:34:50


Cara, não tem o que falar, a materia esta simplesmente otima, não poderia ser melhor, ou poderia, desde que eu estivesse por ai para poder fazer um teste drive, mas tudo bem, o que os olhos veem o coração sente; maninho sou apaixonado por CB's, tenho uma CB 200, ano 1976, mas nunca vi nada parecido na internete, e o que e pior estou precisando da corrente de comando, a mesma e dupla, igaual da XL 125, sendo que o dobro de largura, e não consigo sequer achar o caminho "das pedras" para saber onde posso conseguir, alias se alguem que estiver por ai visitando "o site" me mandem alguma dica, estou desesperado, ja fiz ate enchimento no estensor da corrente, mas sei que não vai durar muito tempo, bem um abreaço a todos do Dake de Rondonia

nome: Jeosadaique Silva Carneiro
(jeosadaique@bol.com.br) Segunda Feira, 4 de Outubro de 2004, às 21:16:51


Nice ride, I do have the same but its a cafe 305.
Nice to see other enthusiast rider the bike to its full glory.
GODSPEED mate!

nome: Lawrence

(lawrence@desertgroup.ae) Domingo, 25 de Novembro de 2007, às 06:38:29