QUANDO JOHNNY CECOTTO ESTREMECEU O MOTOCICLISMO MUNDIAL

30 ANOS DE SUA ESTRÉIA NO MUNDIAL

MARÇO DE 1975

 

Em 30 de março de 2005, se completaram 3 décadas da assombrosa estréia do venezuelano, nascido em Caracas, Johnny Cecotto em Campeonatos Mundiais de motociclismo.

Sua dupla vitória nas categorias 250cc e 350cc, no circuito Paul Ricard, se converteram em um feito único e inigualável em mais de 50 anos de competições, e que lançaram ao estrelato o desportista venezuelano mais famoso do planeta !


Johnny Ceccoto ( veja matéria ) era um completo desconhecido na Europa e nada podia antecipar semelhante atuação, assombrosa estréia, que nunca pode ser igualada e teriam que passar varios anos para que algumas de suas marcas fossem derrubadas pela nova geração de jovens pilotos. De igual maneira, Venezuela, famosa por seus habilidosos jogadores de Beisebol, e insígnios Boxeadores, irrompia com autoridade no cenário motociclístico mundial, e que deixaria uma marca indelével, legado que permanece vigente nas novas gerações de corrredores.

Para tentar compreender o que Cecotto fez em 1975 teríamos que imaginar o seguinte cenário:  que um piloto completamente desconhecido estréie e derrote Valentino Rossi na sua primeira prova válida da temporadda 2005 do MotoGP, e mais ainda, vença na mesma etapa a prova da categoria 250 !

É o que melhor cabe como comparação, porque naquela ocasião, o maior vencedor da história das duas rodas, o também italiano Giacomo Agostini, acumulava vitórias e títulos com uma facilidade espantosa, até a chegada de Johnny Cecotto. Claro que não faltará aquele que diga que naquele tempo o motociclismo era diferente, no que estará rigorosamente certo: corria-se em cenários irreais se compararmos com os modernos padrões de segurança, traçados em que não era raro tropeçar em linhas ferroviárias, casas, muros, árvores, etc !

Ao guidão de Yamahas bicilindricas modelo TZ, trabalhadas por um reduzido grupo de artesãos da velocidade, Cecotto e a equipe Venemotos-Yamaha conseguiram quebrar um domínio que europeus, africanos e oceanicos exerceram durante décadas !

Andréa Ippolito, ex-corredor ( veja matéria ), presidente da Federação Venezuelana de Motociclismo, e importador da Yamaha, impulsionou e financiou toda a operação que se elaborou ao redor de Johnny Cecotto, uma aposta arriscada, que não tardaria em pagar seus benefícios. A ela se juntaram as hábeis mãos de Angelo Frontierri e Italo Cicheti na preparação dos frágeis motores de 2 tempos, equipe que logo contaria com o apoio de Ferucio Dalle Fusine e Alberto "Cataco" Rodriguez.


A estréia:

O circuito de Paul Ricard, era considerado o mais moderno e seguro do velho continente, calendário em que se mesclavam traçados como Imatra, Brno, Salzburgring ou Spafrancorchamps, que faziam tremer de terror os pilotos da época. Se hoje não existe a categoria 350cc, durante décadas os melhores pilotos participavam tanto nessa cilindrada, como na 250cc, como era o caso de Giacomo Agostini.

O italiano Giacomo Agostini ( veja matéria ) dominava as divisões principais do chamado "Continental Circus". Quatorze títulos mundiais conquistados tanto nas 350 com nas 500, o converteram no maior vencedor de todos os tempos, uma mara que perdura até hoje. Épicos foram os duelos que manteve com lendas como os britânicos Mike Hailwwod ( veja matéria ) e Phil Read ( veja matéria ), e também se falou muito da sorte que o acompanhava, porque muitos que estavam a ponto de destroná-lo, sofriam terríveis acidentes, ou pior ainda, encontravam a morte.

O primeiro aviso de Cecotto se deu durante os treinos oficiais na pista de Le Castellet de 5810 metros, traçado em que de alguma forma estava vinculado a outro venezuelano, o matador César Girón, que se casou com a filha do grande empresário francês Paul Ricard.

O número 19 de Cecotto consegue o segundo tempo no gid de largada das 250 atrás do piloto oficial da Yamaha, o japonês Ikujiro Takai, e completando a primeira fila também estavam o piloto local Patrick Pons, e o campeão mundial, italiano, Walter Villa ( veja matéria ).

Na 350, o venezuelano que leva o número 12, se classifica na pole position batendo o japonês Hideo Kanaya, o italiano Giacomo Agostini, e o britânico Mike Doods !

Tanto a prova de 250 e 350 teriam 22 voltas, no circuito famoso pela sua reta de quase 2 quilometros de extensão.

Na 250, Cecotto partiu atrás de Takai, que procurou desembaraçar-se, sem êxito, do desconhecido de capacete branco com listas vermelhas.


Takai (8) tentado se livrar de Cecotto (19)

Johnny estudou o seu rival, e foi na última volta , a menos de 500 metros da bandeira quadriculada, quando o venzuelano fez sua manobra magistral ... 


Cecotto preparando o bote !

... e ganhou a freada na curva L´Ppingle, deixando o nipônico sem possibilidade de reação !


Voando nas 250 !

Cecotto cobrira a distância em 51 minutos, 7 segundos e 1 décimo, e fez também a melhor volta da prova com 2 minutos e 18 segundos numa média de 151 km/h, o que lhe permitiu bater por mais de 3 segundos a marca que era de Jarno Saarinen ( veja matéria ) em 1973.

O pódio se completou com Michel Rougerie, com uma Harley Davidson, a quase 1 minuto e meio do vencedor.


Pódio das 250. Ceccoto, entre Takai e Rougerie

O triunfo também permitia a Cecotto converter-se no corredor mais jovem a receber a bandeira quadriculada, rompendo a marca que desde 1959 tinha o lendário Mike "The Bike" Hailwood.

Mas o show do venezuelano apenas começava e faltava a prova das 350cc onde se mediria com Giacomo Agostini !

O duelo com Agostini:

Vinte e duas voltas aguardavam novamente pelo pelotão, mas a diferença da primeira corrida em que Cecotto havia feito as vezes de caçador, nesta oportunidade se converteu em lebre, embora ninguém seria capaz de seguir seu ritmo.

Pela segunda vez nesse dia, as notas do "Gloria al Bravo Pueblo" soaram em solo francês !

Andréa Ippolito levara o Hino Nacional em sua bagagem ... seria apenas um pressentimento, ou estava muito seguro do potencial de seu protegido ... ?

Se nas 250 Johnny Cecotto estava acompanhado no pódio por Takai e Rougerie, nas 350 sua escolta foi nada mais nada menos que o intocável Agostini e o piloto local Gerard Choukroun.

Para ter uma idéia do endiabrado ritmo do venezuelano, outra vez quebrou o recorde da melhor volta, e nas 22 voltas abriu 25 segundos sobre o campeão do mundo, assegurando também seu primeiro "hat-trick" (pole position, melhor volta e vitória) da carreira !!

Mas o mais surpreendente foi ver que o tempo acumulado com a moto de 350, de 50 minutos, 21 segundos e 5 décimos, lhe dariam o terceiro lugar nas 500, a 12 segundos do vencedor, Agostini !

"Foi incrível - recorda Cecotto na sua casa na Itália - chegamos sem conhecer a pista mas de imediato me adaptei a ela e as motos funcionaram sem problemas. Na corrida de 250cc estive atrás de Takai, não sabia aonde iria ultrapassá-lo, e o superei faltando 3 curvas para chegar a meta, atrasando a freada ao máximo em uma curva fechada, sem dar chance de reação. Na 350cc, foi mais fácil porque escapei logo e ninguém me alcançou até a bandeirada, com Agostini a mais de 20 segundos. Ninguém de nós, esperava, pois fomos à Europa com a intenção de aprender e adquirir experiência, e ganhar as duas provas nos surpreendeu a todos !"

O influente jornal L' Equipe de France aclamou o fenômeno sul americano ao escrever: " Johnny Cecotto ganhou na 250 e 350, e não ganhou na 500, porque não correu ! "

A imprensa internacional se desmanchou em elogios ao novo fenômeno, e a Venezuela começava a deixar sua marca no motociclismo mundial.


Cecotto somava apenas uma dezena de competições em pistas da América do Sul e Japão, tendo conquistado um belíssimo 3º lugar nas 500 Milhas de Interlagos de 1973 ( veja matéria ), e também uma breve aparição nas 200 Milhas de Ímola em 1974 ( veja matéria ).

Umas semanas antes do GP da França de 1975, Cecotto havia conquistado um belo terceiro lugar nas clássicas 200 Milhas de Daytona ( veja matéria ), largando atrás, e superando o campeoníssimo Agostini nas voltas finais, mas a orgulhosa crítica européia apenas deu importância à cidade da Flórida, considerando-a muito rica, mas sem prestígio a nível dos verdadeiros grandes prêmios europeus !


Cecotto (96) nas 200 Milhas de Daytona, com Agostini atrás !
 1975

A pequena formação venezuelana, que tomou como seu centro de operações a localidade italiana de Lugo, de Romagna, não pareceu impressionar-se em ter que disputar com as equipes de fábrica que contavam com pilotos de grande experiência.

Tanto na 250 como na 350, se destacava o italiano Walter Villa, campeão de 1974, nas 250, com a rapidíssima Harley Davidson (ex-Aermacchi), em dupla com Michel Rougerie. O grande esquadrão da Yamaha protegia os japoneses Ikujiro Takai e Hideo Kanaya, enquanto os europeus contavam com figuras em ascensão como os italianso Paolo Pileri e Mario Lega, os franceses Jean François Baldé e Patrick Pons e o holandês Boet Van Dulmen, sem esquecer o gigante alemão Dieter Braun, duas vezes campeão, da 125 (1970) e 250 (1973). E é claro, o poderoso Giacomo Agostini !

O resto foi uma história que terminou com o título mundial das 350 e o 4º lugar nas 250, título que também seria de Cecotto se não houvesse sofrido três falhas mecânicas cruciais, na Espanha, Holanda e Suécia, quando comandava a corrida.

Impressionados pela sua assombrosa atuação, os meios de comunicação internacionais não demoraram a chamar Cecotto como "Menino Prodígio", "Fangio das duas rodas", iniciando uma verdadeira febre, a "Cecottite", na Venezuela e em todo o continente, impacto e entusiasmo que motivaria a outros jovens a imitá-lo, como Carlos Lavado, Aldo Nannini, e Ivan Palazzese ( veja matéria ).



Resultados finais GP da França de 1975

(Paul Ricard - 5.810 m)

350 cc (22 voltas)

1)      Johnny Cecotto (Venezuela) Yamaha 50’21”5

2)      Giácomo Agostini (Italia) Yamaha a 25”

3)      Gerard Choukroun (França) Yamaha a 57”

4)      Jean Louis Guignabodet (França) Yamaha a 1’00”8

5)      Claude Huget (França) Yamaha a 1’01”1

6)      Jean Francois Balde (França) Yamaha a 1’03”8

7)      Pentii Korhonen (Finlandia) Yamaha a 1’28”1

8)      Patrick Bouzane (França) Yamaha a 1’31”2

9)      Pat McKinley (Inglaterra) Yamaha a 1’33”3

10)  Kjell Solberg (Noruega) Yamaha a 1’36”2

 

Pole position: Johnny Cecotto 2’16”6

Melhor volta: Johnny Cecotto 2’15”9

 

 

250 cc (22 voltas)

 

1)      Johnny Cecotto (Venezuela) Yamaha 51’07”1

2)      Ikujiro Takai (Japão) Yamaha a 1”9

3)      Michel Rougerie (França) Harley Davidson a 1’26”4

4)      Patrick Pons (França) Yamaha a 1’43”8

5)      Lars Gustafsson (Suécia) Yamaha a 1’50”2

6)      Gerard Choukroun (França) Yamaha a 2’01”1

7)      Chas Mortimer (Inglaterra) Yamaha a 2’08”0

8)      Tom Virtanen (Finlandia) Yamaha a 2’11”2

9)      Tom Herron (Irlanda) Yamaha a 2’21”6

10)    Patrick Bouzane (França) a 2’22”8

 

Pole position: Ikujiro Takai 2’19”6

Melhor volta: Johnny Cecotto 2’18”



Texto: Octávio Estrada - Venezuela
 www.prototipos.net

Tradução e Layout - Ricardo Pupo
Abril / 2005

 

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Comentários:


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No Mês anterior fev/1975 ele correu a Taça Centauro, se não me engano foi em 75, e eu estava lá e ele deu um show, era o unico que empinava em algumas saidas de curva, principalmente no pinheirinho e bico de pato, bons tempos, o garoto era o verdadeiro Fenômeno.!!!!!
Crippa
(servicos.spc@spjapan.com.br) Segunda Feira, 4 de Abril de 2005, às 17:43:04


Que matéria! Sensacional! Parabens.
Tabajara A. Jorge
(miraassumpcao@ig.com.br) Quarta Feira, 6 de Abril de 2005, às 17:29:18


Pois é Crippa, eu tambem estava lá. Ele empinava no S para o Pinheirinho. Só quem viu viu.. Ele freava sempre depois das marcas nossas. Desse nivel tivemos o Jacare, o Tucano, o Netinho e o Adu e outros que não me lembro, mas que hai hai.
ivandejesus
(ivandejesus51@ibest.com.br) Sábado, 9 de Abril de 2005, às 10:20:10


Só como informação do talento do cara, o Ayrton Senna quando estreou na Fórmula 1 pela equipe Toleman foi como 2º piloto, pois o 1º era o Cecotto. O Senna só cresceu na equipe quando o Cecotto se quebrou gravemente em um acidente.
Leandro Peduto Alfonso
(portocc@uol.com.br) Terça Feira, 12 de Abril de 2005, às 12:00:37


Os europeus ficaram impressionados, nós brasileiros não, já conheciamos o Johnny a algum tempo com corridas fenomenais em dupla com o Jacaré, na taça Centauro de 1975, ele largou em último, quebrando o recorde de Interlagos, o famoso 3:13 e vencendo o Adú que estava com uma TZ de ultima geração, quem não lembra, não é Crippa ?
Luiz Fernando Mota
(l-mota@terra.com.br) Sexta Feira, 15 de Abril de 2005, às 23:08:14


Nadie como el. Ni siquiera Valentino
Eduardo Perez
(eduardoperez64@hotmail.com) Segunda Feira, 14 de Novembro de 2005, às 21:35:57


Assisti a Taça Centauro de 1975, foi a primeira vez que estive na sagrada pista de Interlagos e sem saber vi o fenomeno Cecotto correr as vesperas de desbancar os melhores do mundo, o cara saia da curva do laranja tão rápido que na tomada do ¨S¨ ele passava com a roda dianteira na grama. Tenho na memoria até hoje dele tirando o capacete quando chegou no box após a terceira bateria (venceu as tres) e vi como ele era jovem, assim como eu na epoca, sei que foi ali que fui contaminado sem cura pelo motociclismo. Inesquecivel. 
Othon Voador Russo
(othonrusso@yahoo.com.br) Segunda Feira, 28 de Novembro de 2005, às 23:33:16


Sempre ia a todas as corridas em Interlagos, e tive a sorte de ver na Taça Centaauro em 1975 uma das melhores  de minha vida quando ganhou o Cecotto.
Na época não tinha pra ninguem.
Cesar da Fonseca
(antenasbycesar@yahoo.com.br) Segunda Feira, 21 de Agosto de 2006, às 09:20:32


Esse Cecotto era demais...Ele muito me inspirou, pois eu tinha uma RD350, naquela época. 
Mário
(Marpialbu@hotmail.com) Sábado, 2 de Dezembro de 2006, às 13:33:16


Para mí, el mejor piloto de motos de su época, y uno de los mejores de la historia!!!
Vicente Fernández
(vefs@movistar.net.ve) Domingo, 1 de Abril de 2007, às 15:06:02


boa materia ...gostaria de saber se cecotto esta vivo?

nome: mauricio
(abrantkoskimauricio@hotmail.com) Terça Feira, 22 de Abril de 2008, às 22:46:00

Caro Maurício: Sim, o grande Johnny Cecotto ainda vive, muito bem, e continua disputando provas pela Europa. Seu filho Johnny Cecotto Jr., iniciou nas competições em 2002 no Kart e atualmente disputa a Fórmula Renault 2000.
Ricardo Pupo